Temas para Refletir

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Nesta página, apresento alguns temas para refletir e compreender alguns aspectos da Psicologia. Navegue por cada item e boa leitura!

A psicanálise foi concebida por Freud como uma teoria da mente, um método investigativo e um tipo de tratamento para transtornos mentais. Como método de tratamento, ela envolve múltiplas sessões por um bom período de tempo. A psicanálise utiliza a Livre Associação, observações sobre funcionamento mental inconsciente e o exame da transferência e da contratransferência como modo importante de compreender e influenciar terapeuticamente o paciente.

Em resumo, pode-se dizer que “a terapêutica psicanalítica tem como objetivo reestruturar uma forma de funcionamento mental por meio das interpretações do analista (Maciel, 1995, p.430). O princípio do determinismo psíquico estabelece que nossa experiência interna, nossos comportamentos, nossa escolha de parceiros românticos, nossas decisões profissionais e até nossos passatempos são moldados por forças inconscientes que estão além da nossa consciência (Gabbard, 2000). Desta maneira um psicoterapeuta psicanalítico reconhece que muitas das razões para as dificuldades deste estão fora da consciência, e tanto o terapeuta quando o paciente podem almejar explorar várias causas convergentes. O pensamento psicanalítico é baeado em uma suposição fundamental de que os eventos da infância moldam a pessoa adulta.Os padrões repetitivos de interações problemáticas com outras pessoas originam-se  de situações intrapsíquicas, por assim dizer, que são internalizadas durante a infância.  A psicoterapia psicanalítica entende as dificuldades do paciente como uma interação complexa entre as características dos pais e o ajuste ente elas (Gabbard, 2007, p. 16). Ou seja, a transferência possibilita a atuação terapêutica em conflitos que tiveram sua origem em fases anteriores do desenvolvimento da pessoa, mas que se mantém intactos no inconsciente, podendo ser modificados e até resolvidos por meio das interpretações do psicoterapeuta e a compreensão profunda Iinsights) do paciente.

O método psicanalítico possibilita o surgimento de significações novas apreensíveis como experiências e que funcionam como aberturas. Estas não se voltam apenas para o conhecimento do modo de atuar do aparelho psíquico, mas também para o próprio funcionamento da análise, para o desvendamento da transferência como forma e produto da relação intersubjetiva.”(Meyer, 2008, p. 59)

Para Racker (1988), a importância de estudar e analisar a relação do paciente com a interpretação baseia-se nos seguintes pontos: a) A análise da transferência é o centro do trabalho analítico. A interpretação é a expressão principal do analista. Daí a ser a relação do paciente com a interpretação o tema central da análise da transferência; b) A interpretação é praticamente o único instrumento técnico do analista. Da relação do paciente com a interpretação dependem a marcha e o resultado do processo analítico.

A esperança é que a psicanálise traga à luz pensamentos, ações e sentimentos dos quais o indivíduo pode não estar consciente e, portanto, não pode controlá-los. Se o indivíduo puder estar consciente deles poderá, ou não, decidir – ainda que inconscientemente – modificá-los (…) penso que nunca poderíamos tolerar nosso trabalho – doloroso como é, tanto para nós, como para nossos pacientes – sem compaixão. Não vejo razão para postular uma fonte externa, independente do homem, da qual fluiria a compaixão.

(Bion, 1979a, p. 129 Em P. C. Sandler. Objetivos do tratamento psicanalítico, acrescidos de contribuições e Wilfred Bion)

Como nos ensina o mestre Bleger (1989), a personalidade caracteriza-se por ser uma totalidade com organização de relativa estabilidade, unidade e integração. Ela é dinâmica, ou seja, cambiante, está submetida a flutuações entre evolução e regressão e entre integração e dispersão. As mudanças ou flutuações são muito variáveis em suas características e em seu grau, mas, em condições normais, conservam-se permanentemente a continuidade e a identidade. A dinâmica da personalidade coexiste com a persistência de sua continuidade e de tal maneira que é condição da outra.

A personalidade não é homogênea, mas se polariza ou diferencia em partes que guardam entre si todas as diversas relações possíveis, inclusive a de coexistir unitariamente dentro de um só sistema. Ela, a personalidade, está dada pelo conjunto organizado da totalidade de condutas. Não há personalidade sem conduta nem há condutas sem personalidade; essa última não é algo distinto que está “por trás” dos fenômenos da conduta e não há nenhuma manifestação de um ser humano que não pertença à sua personalidade.

Freud dividiu a personalidade em três setores que chamou de ego (eu), superego (supereu) e id (isso); esse último é o reservatório de todos os impulsos, o superego é uma parte que condensa as normas e exigências, enquanto que o ego é a parte da personalidade que responde à realidade exterior e a ela se adapta , assim como distribui e tenta controlar o id e o superego.”

Bleger, José (1989). Psicologia da Conduta. Porto Alegre: Artes Médcas.(pp.193-194).

“O transtorno dissociativo da personalidade (TDI; antigo transtorno da personalidade múltipla) tem longa história na psicologia e na psiquiatria. É condição em que um indivíduo manifesta dois ou mais estados de personalidade diferentes que, por vezes, assumem o controle de seu comportamento, associados a lapsos de memória (amnésia).

Deve-se enfatizar que a origem dos sintomas é devido a uma infância crônica e gravemente traumática. Por definição, um paciente com TDI vive de forma crônica com estados de personalidade subjetivamente separados.

Esses estados distintos, que têm seus próprios sensos de identidade, seus próprios comportamentos e afetos característicos, bem como suas próprias memórias frequentemente traumáticas, são vivenciados pelo paciente fomo pessoas diferentes (o “delírio da separação” que, todavia, não é um sintoma psicótico nem responde a medicamentos antpsicóticos).”

Foote, B. (2018)

“O narcisismo definido ao nível clínico como regulação normal ou patológica da autoestima pode ser classificado como narcisismo adulto normal, narcisismo infantil normal ou narcisismo patológico. O transtorno da personalidade narcisista representa o tipo mais grave de narcisismo patológico. Este último gira em torno da presença de um self grandioso patológico. Seus principais aspectos são egocentrismo excessivo, dependência excessiva de admiração, fantasias grandiosas e surtos de insegurança. Pessoas com transtorno da personalidade narcisista apresentam relações patológicas com os outros: inveja, exploração, intitulação, desvalorização e falta de empatia. Podem apresentar também patologia do superego significativa refletida em comportamento antissocial, e um diagnóstico diferencial do transtorno da personalidade antissocial característico é necessário. Tal diagnóstico diferencial carrega implicações de prognóstico essenciais em razão de prognóstico insatisfatório do tratamento da personalidade antissocial.”

(Kernberg, O. F. (2013). Em J.F.Clarkin, P. Fonagy. & G.O. Gabbard (Orgs)(2013). Psicoterapia Psicodinâmica para transtornos da personalidade. Um manual clínico. (pp.273-302). Porto Alegre: Artmed.

O objetivo de um psicodiagnóstico sensível não é avaliar o “quão doente” alguém está, ou determinar o quanto essa pessoa está nos limites para ser definida como normal pela sociedade (McDougall, 1980), mas entender as particularidades do sofrimento e da força de alguém, a fim de mitigar o sofrimento e estimular a força.

(McWilliams, 2014. p. 171)

Deitado no divã, quando o pedido educado e não fantasmagórico do analista foi atendido, o paciente fala da mulher, dos filhos, do pai, do patrão, dos vizinhos etc. Seria uma fuga, resistência de falar sobre si mesmo? Se tomarmos a premisssa de que qualquer dito é dito de si mesmo, o paciente mostra-se nos objetos que por ele são representados.

Esta é uma das peculiaridades apontadas por Herrmann da consciência em condição de análise, pois sendo tudo o que penso no sentido de que cada coisa me representa de algum modo, perdendo a possibilidade de dizer isso são os outros, e não tendo acesso, por outro lado, ao lugar onde me sou, o inconsciente, tenho de contentar-me em ser diferenças: diferenças entre o que cria e creio agora, diferenças entre objetos apreendidos como emoções diversas.

O analisar, dentro desse contexto, pode ser considerado como a possibilidade de transformação contínua de ser outra coisa, de poder representar-se de muitas maneiras diferentes, de estar na condição peculiar de ser-em-trânsito, um estado ideal da consciência que se “deita” para se descobrir, desnudando-se das suas forma identificatórias preferenciais e de se deixar apenas observar o que tal experiência, nada rotineira, pode revelar.

(Capitão, C. G. (2011). O Método Psicanalítico na Teoria dos Campos. Jundiaí: Paco Editorial.

Perante a um belo horizonte amplo e heterogêneo da Psicanálise, destaco, nessa pequena comunicação, alguns aspectos da Psicanálise “clássica”.

“A psicanálise é o método de tratamento das perturbações emocionais nas quais a relação entre o paciente e o terapeuta está estruturada para facilitar ao máximo o desenvolvimento de uma neurose de transferência. As interpretações do analista são os instrumentos decisivos e finais, utilizados numa atmosfera de neutralidade compassiva, o que permite ao paciente, comunicando-se por meio da associação livre, recapitular sua neurose infantil. O alvo do analista é oferecer ao paciente insights de maneira que ele próprio possa resolver seus conflitos neuróticos – desta forma efetuando mudanças permanentes no seu ego, id e superego, e desta maneira entendendo o poder e a soberania do seu ego.”(Greenson, 1958b, p.201)

“A transferência se refere à vivência de sentimentos, impulsos, atitudes, fantasias e defesas contra uma pessoa no presente que são inadequadas em relação a esta pessoa e são uma uma repetição, um deslocamento de reações que se originaram com respeito a figuras significativas da primeira infância (Freud, 1905, 1909, 1916-1917). Deve-se assinalar que, para que uma reação seja considerada transferencial, ela deve possuir duas características: deve ser uma repetição do passado e ser inadequada na ocasião presente.”

“O termo aliança de trabalho é usado de preferência a diversos termos utilizados por outras pessoas para designar o rapport relativamente racional, não-neurótico, que o paciente tem com o seu analista. É esta parte racional e intencional dos sentimentos do paciente para com seu analista que assegura a aliança de trabalho.”

“O núcleo seguro da aliança de trabalho é formado pela motivação do paciente para superar sua doença, sua disposição racional e consciente em cooperar e sua capacidade para seguir as instruções do analista. A aliança real se forma basicamente entre o ego racional do paciente e o ego analisador do analista”

(Sterba, 1934)
Greenson, R. R. (1982). Investigações em psicanálise. Rio de janeiro: Imago, pp. 222-224)

“A análise não pretende impedir reações mórbidas, mas sim dar ao ego do paciente a liberdade de fazer a sua escolha”(Freud, 1933, SE, p. 80)

“Enquanto as forças mentais que afetam de forma significativa as decisões do homem permanecem inconscientes, elas agem como determinantes, que a pessoa que está tentando tomar a decisão não pode levar em consideração, não pode avaliar, nem medir, e muito menos descartar. E mesmo que estas forças consigam na consciência, a percepção que se tem delas deve chegar até as suas raízes, onde se encontra o próprio domínio da repressão.”

A terapia bem-sucedida reduz a ansiedade, anula particularmente as repressões e corrige percepções distorcidas.”

Gay, P. (1992, pp. 134-136)

No que se refere aos atendimentos ditos online, apesar de certa banalização observada na atualidade, encontrei uma passagem interessante e bastante esclarecedora, no livro de Marcio de Freitas Giovannetti, Clínica Psicanalítica: Testemunho e hospitalidade.

“Ao convocar-me a atendê-lo por Skype, meu jovem paciente levou-me a ver que o lugar do analista e aquilo que torna a análise possível não é o seu consultório, nem seu divã, nem mesmo a corporeidade física de um e de outro, nem todo o acervo de conhecimento teórico do analista.

É, sim, a possibilidade de deslocar-se do lugar previamente definido e confortável de nosso acervo teórico para poder fazer testemunho do acontecimento que é aquele encontro, a talking cure, não como um terceiro, mas como um participante que é capaz do olhar e da escuta que reconhece e legitima cada experiência humana.”

(Giovannetti, 2018).

Um resumo das ideias de Ralph R. Greenson

1 – Quanto ao paciente

“Apenas um paciente fortemente motivado será capaz de trabalhar com entusiasmo e perseverança na situação analítica. Os sintomas neuróticos ou traços de caráter divergentes podem provocar sofrimento suficiente para induzir o paciente a suportar as durezas do tratamento psicanalítico. A curiosidade e o desejo de entender tëm que ser complementados pela miséria neurótica se o paciente quiser ter algo mais que uma experiência psicanalítica superficial. Ele deve estar disposto a tolerar o desespero de revelar suas experiências íntimas repletas de culpa e de ansiedade.

O que torna a terapia psicanalítica tão exigente em relação ao paciente é que os procedimentos e processos da psicanálise exigem dele, paciente, a capacidade para desempenhar inúmeros pares e funções do ego antitéticas, de maneira mais ou menos consistente e repetida e também a capacidade de oscilar entre ambas e misturar as duas funções antitéticas. Assim, pede-se ao paciente: (a) para regredir e para progredir, (b) ser passivo e ativo, (c) perder o controle e manter o teste de realidade. Para fazer tudo isso, o paciente analítico deve ter funções do ego flexíveis e elásticas.

2 – Quanto ao analista

Para poder praticar a psicanálise terapêutica, o psicanalista deve ser capaz de realizar certos procedimentos técnicos no paciente e nele próprio. (…) O que vai acontecendo dentro de sua própria mente acaba sendo o instrumento mais importante de que dispõe o psicanalista para compreender a mente de outro ser humano.

Exige-se realmente do analista uma inteligência e nível culturais elevados, porém, mais importante ainda, é uma mente inconsciente compreensível e disponível. A exigência para que todos os psicanalistas tenham feito terapia psicanalítica antes de ter permissão de tratar psicanaliticamente um paciente, não visa apenas a dar ao analista uma convicção pessoal da validade dos fatores inconscientes e dessensibilizá-lo nas áreas em que seus próprios problemas poderiam distorcer seu julgamento: o objetivo fundamental da análise pessoal do analista é pôr ao alcance de seu ego consciente os impulsos inconscientes, defesas, fantasias e conflitos importantes da sua própria vida infantil e seus derivados posteriores.

A habilidade do psicanalista resulta dos processos psicológicos que também formam sua personalidade e caráter. Os requisitos essenciais são aptidão, conhecimentos, caráter e motivação. Todos eles estão inter-relacionados e ligados as emoções, impulsos, fantasias, atitudes e valores – conscientes e inconsciente – do psicanalista.”

Greenson, R. R. (1981). A Técnica e a Prática da Psicanálise, Vol. II, PP, 399-406)

“O desenvolvimento psicológico pode ser entendido, podemos assim dizer, como uma progressiva adaptação às demandas do mundo interno e externo. Os pacientes idosos procuram por psicoterapia, quando ocorrer uma falha nos mecanismos adaptativos do desenvolvimento. (Sandler, 1984)

Sabe-se, também, que o idoso, mesmo com idade avançada, é capaz de assimilar novas representações de objeto em sua estrutura psíquica, por meio da análise das ansiedades infantis e da diminuição do poder das imagos parentais. (Cath e Miller, 1986)

Envelhecer, obviamente, não é uma experiência idêntica para todas as pessoas, pois as idades cronológica, fisiológica e psicológica não estão de mãos dadas, além dos aspectos atemporais do inconsciente. (King, 1980).

Pode-se dizer, que o passado se torna rico de significado quando está integrado a um presente ativo e conectado ao futuro de uma maneira misteriosa.”

Em: Zaslavsky, J. & Santos, M. J. P. dos ( 2006,pp.193-208)

Em “O ouvido do analista e o olho do crítico: Repensando psicanálise e literatura”, Ogden & Ogden (2014) afirmam que o analista, na configuração analítica, está mais livre do que numa conversa comum para perceber sua experiência de reverie (seu sonhar acordado), o que lhe dá maior acesso do que o habitual não só aos derivativos do seu próprio pensar inconsciente, mas tão importante quanto, a uma forma de pensar que paciente e analista geram coletivamente – o pensar de um terceiro sujeito, o “terceiro analítico” criado em conjunto. (p.58)

Desta feita, é a compreensão intersubjetiva da reverie do analista reflete um desenvolvimento importante na concepção analítica do aspecto inconsciente da mente: em análise (bem como em qualquer outra experiência interpessoal significativa, começando ao nascer) os aspectos inconscientes da mente de duas (ou mais pessoas) contribuem para criar um “campo psicológico (Ferro, 1999; Baranger e Baranger, 2009) entre eles, que cada participante vivencia em forma de sonho enquanto adormecido em em seu sonhar acordado (sua experiência de reverie). Nenhum dos participantes pode reivindicar exclusivamente como seus sonhos do campo psicológico interpessoal inconsciente que paciente e analista criam em conjunto. (p.60)

É essa produção intersubjetiva que vitaliza a psicoterapia psicanalítica.

Ogden, B. H & Ogden, T. H. (2014) . O ouvido do analista e o olho do crítico: Repensando psicanálise e literatura.São Paulo: Escuta.

Critérios Diagnósticos:

A – Um padrão difuso de desconsideração e violação dos direitos das outras pessoas que ocorre desde os 15 anos de idade, conforme indicado por três (ou mais) dos seguintes:

  1. Fracasso em se ajustar às normas relativas a comportamentos legais, conforme indicado pela repetição de atos que constituem motivos de detenção.
  2. Tendência à falsidade, conforme indicado por mentiras repetidas, uso de nomes falsos ou de trapaça para ganho ou prazer pessoal.
  3. Impulsividade ou fracasso em fazer planos futuro
  4. Irritabilidade e agressividade, conforme indicado por repetidas lutas corporais ou agressões físicas.
  5. Descaso pela segurança de si e de outros.
  6. Irresponsabilidade reiterada, conforme indicado por falha repetida em manter a conduta consistente no trabalho ou horar obrigações financeiras.
  7. Ausência de remorso, conforme indicado pela indiferença ou racionalização em relação a ter ferido, maltratado ou roubado outras pessoas.
  8. O indivíduo tem no mínimo 18 anos de idade.
  9. Há evidências de transtorno da conduta com surgimento anterior aos 15 anos de idade.
  10. A ocorrência de comportamento antissocial não se dá exclusivamente durante o curso de esquizofrenia ou transtorno bipolar.

Referência: Manual diagnóstico e estatístico de transtornos mentais: DSM-5- American Psychiatric Association. Porto Alegre: Artmed, 2014, (p.659).

Para Gabbard (2016), “os clínicos devem ter sempre em mente um fato incontestável: os pacientes que têm a intenção verdadeira de se matar, no final, o farão. Nenhum tipo de restrição física, observação cuidadosa e habilidade clínica podem impedir o paciente suicida que está verdadeiramente determinado.

Um desses pacientes foi colocado em uma sala isolada com nada além de um colchão. Todas as suas roupas e seus pertences foram retirados e sua situação era verificada em intervalo regulares de 15 minutos ao longo de todo o dia. Entre as rondas de 15 minutos da equipe, o paciente começou a pular no colchão de modo tão intenso que ele conseguiu bater repetidamente sua cabeça contra o teto, até que, finalmente, conseguiu quebrar o pescoço.

Esses incidentes ilustram que os membros da equipe hospitalar devem reconhecer que não podem evitar a ocorrência de todos os suicídios em uma unidade de internação. Olin (1976) chegou a sugerir que, se jamais ocorre suicídios em um hospital específico, os membros da equipe hospitalar podem estar assumindo responsabilidades excessivas sobre os pacientes. Em vez disso, os clínicos devem enfatizar repetidamente que o paciente tem, em última instância, a responsabilidade de aprender a verbalizar os impulsos suicidas, em vez de botá-los em prática (…)

Os terapeutas tendem s se culpar pelos resultados adversos que estão além do controle deles. Em última instância, devem se conformar com o fato de que há doenças psiquiátricas terminais. Os pacientes devem arcar com a responsabilidade de decidir se irão cometer suicídio ou trabalhar colaborativamente com o terapeuta para compreender o desejo de morrer.

Felizmente, maioria dos pacientes contempla o suicídio com alguma ambivalência. A parte do indivíduo suicida que questiona a solução suicida pode levá-lo a escolher a vida em vez da morte.”

Gabbard, O. G (2016). Psiquiatria Psicodinâmica na Prática Clínica Porto Alegre: Artmed. (pp. 244-249)

Para Jung(1982), “não é o sujeito que projeta, mas o inconsciente. Por essa razão não se cria a projeção: ela existe de antemão. A consequência da projeção é um isolamento do sujeito em relação ao mundo exterior, pois em vez de uma relação real o que existe é uma relação ilusória. As projeções transformam o mundo externo na concepção própria, mas desconhecida.”

Desta feita, “muitas vezes é trágico como uma pessoa estraga de modo evidente a própria vida e a dos outros, e como é incapaz de perceber até que ponto de vista essa tragédia parte dela e é alimentada progressivamente por ela mesma. Não é a sua consciência que o faz, pois esta lamenta e amaldiçoa o mundo desleal que dela se afasta cada vez mais. Pelo contrário, é um fator inconsciente que trama as ilusões que encobrem o mundo e o próprio sujeito.

Na realidade, o objetivo desta trama é um casulo em que o indivíduo acabará por se envolver.

(Jung, C.G., Aion – Estudos sobre o simbolismo do si mesmo. Petrópolis, 1982 pp 6-8).

Critérios Diagnósticos

  1. Por um período de pelo menos seis meses, fantasias sexualmente excitantes, impulsos sexuais ou comportamentos intensos e recorrentes envolvendo atividade sexual com criança ou crianças pré-púberes (em geral, 13 anos ou menos).
  2. O indivíduo coloca em prática esses impulsos sexuais, ou impulsos ou fantasias sexuais causam sofrimento intenso ou dificuldades interpessoais.
  3. O indivíduo tem, no mínimo, 16 anos de idade e é pelo menos cinco anos mais velho que a criança ou crianças do Critério A.

Nota: Não incluir um indivíduo no fim da adolescência envolvido em relacionamento sexual contínuo com pessoas de 12 ou 13 anos de idade.

Determinar:

Tipo exclusivo (com atração apenas por crianças)

Tipo não exclusivo

Especificar se:

Sexualmente atraído por indivíduos do sexo masculino

Sexualmente atraído por indivíduos do sexo feminino

Especificar se:

Limitado a incesto.

“Por transferência, entende-se um tipo de relacionamento especial com uma pessoa; é uma forma característica de relacionamento. A característica principal é a vivência de sentimentos – relação a uma pessoa – que não está endereçada àquela pessoa e que, na verdade, está a outra.

Os objetos que foram as fontes originais de reações transferencial são pessoas importantes dos primeiros anos de vida de uma criança. Em geral, são os pais e outros educadores, os fornecedores de amor, conforto e punição, os irmãos e outros rivais. Todavia, as reações transferenciais se podem ter originado de figuras posteriores e até mesmo figuras do presente, mas a análise vai mostrar que estes objetos posteriores são secundários e eles próprios saídos das figuras da infância primitiva.

Todas as pessoas têm reações transferenciais; a situação analítica apenas facilita o seu desenvolvimento e as utiliza para interpretação e reconstrução (Freud, 1905, 1912). Os neuróticos são particularmente propensos às reações transferenciais assim como os frustrados e as pessoas infelizes, em geral. O analista é um alvo ideal das reações transferenciais, mas todas as pessoas importantes na vida de um indivíduo também o são.

Em suma, a transferência é a vivência de sentimentos, impulsos, atitudes, fantasias e defesas em relação a uma pessoa do presente que não visam àquela pessoa, mas constituem uma repetição das reações surgidas em relação às pessoas importantes da infância primitiva, inconscientemente deslocadas para figuras no presente.”

(Greenson,1981)

“Os pacientes internados em um hospital tendem a externalizar, naquele ambiente, o seu mundo interno de relações objetais, repetindo com a equipe os mesmos padrões de relacionamento que vivenciaram no meio familiar, notadamente por meio de mecanismos mais primitivos, como a dissociação e a identificação projetiva, gerando reações contratransferenciais muito intensas na equipe. Isso torna os vários membros da equipe receptores dos objetos internos neles projetados pelos pacientes, sentindo-se coagidos a atuar como se fossem tais figuras internalizadas, porém, muitas vezes, em um nível psicótico de funcionamento.

Por consequência, a equipe assistencial é o objeto de escolha mais imediato para tais projeções, o que pode levar a reações contratransferenciais intensas e caóticas, com as mesmas características confusionais que aquelas observadas nos pacientes.”

(Valente, J.Y; Santos, M.R. dos & Galvani, T. Experiências contratransferenciais de estudantes (pp. 325-326) Em

(Orgs.) J. Zaslavsky, M .J. P. dos Santos (2006). Contratransferência: teoria e prática clínica. Porto Alegre: Artmed.

“Pode-se dizer que uma fronteira pode ser definida resumidamente como limite do comportamento apropriado. Desta feita, o estabelecimento de limites nítidos é projetado para criar uma atmosfera de segurança e previsibilidade dentro da qual o tratamento pode progredir”

“Como já foi dito, as fronteiras profissionais constituem a arquitetura de uma estrutura psicoterapêutica (Gabbard e Lester, 2003). Podem envolver elementos como a abstinência de contatos sexuais, as combinações de honorários, a duração das sessões e a relativa assimetria da auto exposição. A concepção de fronteiras profissionais não implica um relacionamento remoto ou rígido com o paciente. Na realidade, muito pelo contrário, essas fronteiras externas são estabelecidas para que as fronteiras psicológicas possam ser transpostas por meio da empatia, projeção, identificação projetiva e a introjeção.”

“As transgressões das fronteiras profissionais ocorrem por diversas razões, e a contratransferência não é a causa de todas as violações. Subtraindo o psicoterapeuta inescrupuloso ou psicopata, cuja transgressão é a regra, não a exceção, a grande maioria dos casos de violação das fronteiras pode ser especificamente atribuída aos enactments contratransferenciais, que ocorrem inconscientemente e refletem a participação de ambos, terapeuta e paciente.”

“Há um amplo consenso e uma convergência teórica no discurso psicanalítico atual de que a contratransferência do analista ou terapeuta é uma criação conjunta do paciente e analista. Os pacientes despertam certas reações no terapeuta, enquanto seus próprios conflitos e representações internas de self e objeto determinam a forma final das respostas contratransferenciais.”

(Gabbard, 2006, pp 236-238 em J.Zaslavsky & M.J.P dos Santos e cols. (2006). Contratransferência: teoria e prática clínica. Porto Alegre: Artmed).

“Ninguém nasce com a capacidade de regular suas próprias reações emocionais. O cuidador entende e responde aos sinais do bebê recém-nascido de mudanças de instante a instante em seu estado, e um sistema regulador bivalente (diádico) desenvolve-se gradualmente.

O bebê aprende que, enquanto estiver na presença do cuidador, não será esmagado por sua excitação emocional, porque o cuidador está lá para ajudá-lo a restabelecer o equilíbrio.

Portanto, quando começa a se sentir esmagado, o bebê busca ou sinaliza o cuidador na esperança de ser acalmado e recuperar a homeostase. Ao final do primeiro ano, o comportamento do bebê parece ser baseado em expectativas específicas.

Suas experiências passadas com o cuidador são agregadas a sistemas representativos que Bowlby (1973) denominou de modelos operantes internos.”

(Fonagy et al, 2013)

“O aspecto determinante central dos transtornos de ansiedade é a experiência de um sentimento de ansiedade crônico e intenso – a sensação de medo sobre o que poderia acontecer no futuro.

A ansiedade vivenciada por pessoas com transtorno de ansiedade leva-as a ter grande dificuldade para funcionar no dia a dia. Elas também experimentam medo, que é resposta emocional a uma ameaça iminentemente real ou imaginária.

Além de ter os sentimentos indesejáveis associados com a ansiedade, essas pessoas fazem o possível para evitar situações que provoquem essa resposta emocional.

Como resultado, podem ter dificuldade para realizar seus trabalhos, desfrutar de seus momentos de lazer ou participar de atividades sociais com seus amigos e familiares.”

(Whitbourne & Halgin, 2015, p. 186)